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Esta é a minha mãe

Virginiana, filha de um pai gigante portuense e de uma "kambuta" rija da ilha de Luanda, filha da sereia como diz a própria. Angolana e Portuguesa, tão depressa fala com um sotaque do Porto ou lisboeta, como manda aquela dica em kimbundo. Negra, branca, o que lhe quiserem chamar, ela é tudo, nada nega e tudo aceita. Ancestralidade é com ela. Obstinada, forte, teimosa e genial. Praticava a parentalidade positiva quando não se falava sobre isso, embora tenha enlouquecido com a minha adolescência. Imperfeita mas mais perfeita do que alguma vez serei. Tive o privilégio de odiá-la na adolescência, pois o seu amor era tão forte, que me permitiu ser rebelde, automizar-me e individualizar-me, sem medo de a perder. Introvertida e extrovertida na mesma proporção, ou seja, desmedida, assim como eu. Ela é fogo, forte e grande, seria assustadora não fosse a gargalhada alta e um poço de emoção, sensibilidade e espiritualidade. Noctívaga, lia livros noite fora e de manhã dizia-me se valiam

Amor Entre Cunhadas

Vamos falar sobre o flagelo de ser amiga das tuas cunhadas? Vamos sim. Ora bem, fui abençoada, ou amaldiçoada, dependente do prisma, com a amizade das minhas duas cunhadas. E não é aquela amizade do ponto de vista do utilizador, em que trocamos algumas gargalhadas no natal e fazemos comprinhas juntas pontualmente. Não. Estou a falar de ser amiga de verdade. Na fossa, na alegria, e na fossa outra vez que somos todas meninas muito dramáticas. Uma das minhas cunhadas, a cara-metade do meu querido irmão, é minha amiga desde os 4 anos e sempre nos tratámos como primas por termos primos em comum. Até que um belo dia o meu irmão olha para ela e diz-me: “ Ela é linda de morrer e na verdade não somos primos de sangue” Ao que respondo “para ti tudo mano, vamos conquistá-la” estava a brincar. Já lá vão uns 10 anos de namoro. A outra criatura, irmã do meu marido tinha 14 anos e eu 18 quando comecei a namorar o irmão dela. Crescemos também juntas, como duas irmãs numa relação ligeiramente

Sou um Pilocas

"Sou um pilocas." Foi esta a frase do meu filho de dois anos e meio (eu não sou uma verdadeira mãe pois não digo a idade dele em meses e perco-me toda se alguém me pergunta). O meu pequeno disse-me isso enquanto ria e rebolava-se todo.“Sou um pilocas, sou um pilocas”  Ora o gaiato aprendeu isto com familiares mais velhos, que certamente fizeram esta brincadeira de forma inofensiva. Tenho a certeza disso, razão pela qual não senti necessidade de chamá-los a razão (à minha razão entenda-se) mas senti a necessidade de explicar ao meu filho que ele não é, um pilocas, ele é um menino que por acaso tem uma piloca ou pilinha. Ora se eu tivesse uma menina e ela corresse pela casa rebolando gritando SOU uma pipizocas… era no mínimo estranho (ou até um “badalhoca alert”) Nunca vi nenhuma menina fazer isto, nem nunca vi ninguém ensinar uma menina a fazer isto. Mas toda a gente sabe que ter um pipi não é motivo de orgulho. Já envergar um mastro (grande e imponente de pref

Férias sem filhos

Vim de férias sem o meu filho dois anos. Não é a primeira vez que passo alguns dias sem ele. Já foi passar alguns dias ao Minho com os avós no verão e também já fiz outras viagens de trabalho e uma de lazer sem ele. Contudo o máximo que tinha ficado longe dele tinha sido a módica quantia de quatro noites. Sim bem sei que para muitos pais já é a loucura mas o que posso fazer se sou um espírito livre que às vezes precisa de dormir noites inteiras,  e que não consegue tirar o mês todo de Agosto de uma enfiada porque se só tiver um período de férias o ano todo augura-se uma tentativa de suicídio com cicuta e a escola fecha o mês todo?  Agora desta vez foi assim mesmo a pés juntos. Viajei para Angola durante 12 dias sem a cria. O início do processo foi o normal, picos de ansiedade nos dois dias antes da viajem culminada num ataque de choro pós despedida. Quando chego ao destino, confirmo que ele está bem e feliz, pumba, pareço outra. Consigo relaxar e ser eu mesma. Sim porque não sei q

Os dias em que enlouqueces

Estava falando com a minha cunhada. Também ela chalupa como eu, que me sugeriu que escrevesse sobre os dias de loucura. Ora bem. Ao que parece existe um tipo de loucura que pelo menos duas pessoas neste mundo experienciam. São os dias em que és nada mais, nada menos, que uma afanada disfuncional. Existem aqueles dias em que tens alguma loucura, considerada comum e aceitável vá. Depois tens estes. Que podem ou não coincidir com a tua menstruação, e quando assim o é…Oh boy. Nestes dias rio-me muito. Não de alegria. Mas de desespero. A sensação de descontrolo emocional é tanta que ris de nervoso (ás vezes sozinha quando a coisa está grave) outras vezes com os amigos, nas quais repetes frases como 'malucoo não tas a perceber', 'chavala até me apago” ou ainda das minhas preferidas:‘ só me apetece beber gasolina e fazer peões. Sim sou super articulada na expressão de sentimentos com os meus amigos. Ou então podes fazer o movimento mais ousado possível nestes dias: priv

Existe alguém que ainda goste do dia de São Valentim?

Lembro-me de ser mais nova e gostar do dia de são Valentim, a minha mãe oferecia sempre presentes a mim e ao meu irmão. Quando comecei a namorar, a minha mãe deu apenas presente ao meu irmão e fiquei cheia de ciúmes, apesar de ter recebido uma prenda do meu namorado. No ano seguinte a minha mãe voltou a dar-me um presente. Hoje em dia não consigo gostar muito deste dia, e não conseguia entender muito bem o porquê. Depois de dedicar algum tempo a este temática e depois de conversar com algumas amigas entendi que não gosto de datas festivas em geral. Apesar de gostar da história do São Valentim, sinto que o dia, como quase todas as datas festivas, foi desvirtuado. O que importa são os presentes, os grandes gestos, o jantar no restaurante chique a abarrotar de casais, como se estivéssemos todos a picar o ponto. Percebi que não gosto de me sentir obrigada a nada, daí não gostar do natal, do dia dos namorados nem de aniversários. Odeio a pressão de ser suposto sentir-me de determ

"Não é porque tu entendes tudo que tens que aceitar tudo"

  Vamos falar de Empatia e de Autopreservação. Vamos dar aqui uma pequena definição destes conceitos retirada da Wikipédia, que toda a gente sabe que mais fidedigno que isto não existe, e um artigo super científico como este merece a melhor das fontes. Ora empatia: "A  empatia  envolve três componentes: afetivo, cognitivo e reguladores de emoções. O componente afetivo baseia-se na partilha e na compreensão de estados emocionais de outros. O componente cognitivo refere-se à capacidade de deliberar sobre os estados mentais de outras pessoas.”    A regulação das emoções lida com o grau das respostas empáticas. A empatia parte da perspectiva referencial que é pessoal a ela, ciente das próprias limitações em acurácia, sem confundir a si mesmo com o outro.   Em outras palavras, seria o exercício afetivo e cognitivo de buscar interagir percebendo a situação sendo vivida por outra pessoa (em primeira pessoa do singula