Esta é a minha mãe


Virginiana, filha de um pai gigante portuense e de uma "kambuta" rija da ilha de Luanda, filha da sereia como diz a própria. Angolana e Portuguesa, tão depressa fala com um sotaque do Porto ou lisboeta, como manda aquela dica em kimbundo. Negra, branca, o que lhe quiserem chamar, ela é tudo, nada nega e tudo aceita. Ancestralidade é com ela. Obstinada, forte, teimosa e genial. Praticava a parentalidade positiva quando não se falava sobre isso, embora tenha enlouquecido com a minha adolescência. Imperfeita mas mais perfeita do que alguma vez serei. Tive o privilégio de odiá-la na adolescência, pois o seu amor era tão forte, que me permitiu ser rebelde, automizar-me e individualizar-me, sem medo de a perder.
Introvertida e extrovertida na mesma proporção, ou seja, desmedida, assim como eu. Ela é fogo, forte e grande, seria assustadora não fosse a gargalhada alta e um poço de emoção, sensibilidade e espiritualidade. Noctívaga, lia livros noite fora e de manhã dizia-me se valiam a pena ou não, enquanto saia para trabalhar com uma energia que não sei de onde tirava. Divorciada e mãe de dois. Incrível. A última grande frase que me disse foi em resposta a um questionamento meu em relação a esta página. Perguntei-lhe ' Mãe sou maluca, não sou?' Respondeu-me: 'Maluca não és, mas és louca, assim como a tua mãe, mas isso, isso é uma coisa boa'. Como vos digo: Ela é a dona da porra toda.

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